Presidenciais 2021 (prognóstico)

     25 de janeiro de 2021 e ainda não se inventou uma palavra que signifique "o dia imediatamente a seguir ao acontecimento referido". Será o antónimo de véspera, mas o antónimo de véspera ainda não existe.

    Uma pesquisa rápida no Google indica que no brasil já inventaram essa palavra. Evchamol. Pela sonoridade diria que é importada do russo, ou do prato de uma criança que está a comer canja e meteu de lado as massinhas em formas de letras.

    Onde é que eu ia? Exato, 25 de janeiro de 2021, evchamol das eleições presidenciais em Portugal.

    Apresentaram-se a estas eleições sete candidatos. Não, seis candidatos. Melhor, cinco candidatos e o presidente. Não, não, quatro candidatos, o presidente e um portão velho que dava para uma quinta ao lado de casa da minha avó que chiava muito quando deixado aberto em noites de vendaval.

    Começo por observar o desagradável que é colocarem o nome completo dos candidatos no boletim eleitoral. O caso de Marisa Matias é um dos mais gritantes. Se um dia ela vai ao cabeleireiro e tem a infeliz ideia de pedir que lhe cortem só as pontas, vem de lá Isabel dos Santos. Talvez tenha sido o receio provocado por esta análise escrupulosa por parte dos portugueses que a fez perder tantos votos em relação a 2016. Isso ou o facto de ter declarado a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa em pleno debate e de ter ainda ponderado em sinal aberto a desistência da sua candidatura em prol da de Ana Gomes. Para Marisa Matias o importante era participar, nesta festa que é... a democracia. E não deixa de ter razão.

    Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, tem um nome imaculado. Isto porque o seu padrinho, num momento raro de lucidez, teve o bom senso de não lhe passar também o apelido. Apresentou-se como candidato ao segundo mandato e foi eleito para o segundo mandato. No entretanto, não se passou grande coisa, dado que Marcelo se recusou a fazer campanha para além da disponibilização da sua cara para "memes". Se dúvidas houvessem de que os "memes" estão a posicionar-se cada vez melhor para dominarem o mundo num futuro próximo, ficaram agora desfeitas.

    Tiago Mayan Gonçalves. Sim tenho a certeza. Não, não é Rodrigues, verifiquei agora. Está no boletim, é Gonçalves. Ok, eu vou ver outra vez. Vês, eu disse que era Gonçalves, isto é um bitaite de gente que se informa! Como eu estava a dizer, Tiago Mayan Rodrigues apresentou-se a estas eleições como desconhecido dos portugueses. Mas pelo seu ar de sociopata algo me diz que ele próprio não conhece muitos portugueses. É o chamado, estamos quites. Curiosamente tenho um amigo que é fã de Tiago Mayan. Pelo sim pelo não, da próxima vez que vier jantar cá a casa vou colocar no seu lugar talheres de plástico, não vá ele entrar em euforias com o contacto social.

    O portão velho que dava para uma quinta ao lado de casa da minha avó e que chiava muito quando deixado aberto em noites de vendaval... espera, isto é um rescaldo às eleições para presidente da república portuguesa, que sentido faz estar a falar de portões que chiam?

    Há quem diga que Vitorino Silva, também conhecido como Tino de Rans, teve nestas eleições a mais pesada derrota da história da democracia. Perdeu na sua própria freguesia. No entanto, atente o leitor que a expressão é Tino de Rans e não Rans de Tino. Tendo em conta que se viu afastado do seu escritório, também conhecido como "a rua", que arrancou em clara desvantagem em relação aos adversários e ainda assim se manteve perto dos resultados das eleições anteriores, Vitorino obteve um resultado respeitável. Agora imaginem o que seria o resultado se Vitorino arrancasse melhor, cada vez que fala.

    O camarada João Ferreira, dizem os especialistas, apresentou-se a estas eleições como a alternativa mais viável a Marcelo Rebelo de Sousa. Infelizmente, isso não se traduziu em votos. Não deixa de ser um grande homem, de princípios nobres, apoiado por um partido a quem devemos tanto... O quê? Isto é propaganda comunista num bitaite humorístico? Discordo, mas ainda que fosse, não há nada na constituição que o proíba... Se votei João Ferreira? A constituição defende, no artigo 10.º, que o povo tem direito a exercer o poder político através do sufrágio universal SECRETO. Isto é, cala-te boca.

    Por fim, mas não menos importante, até porque ficou em segundo ao contrário do que alguns portões quiseram fazer parecer, Ana Gomes. A conhecida mãe de Rui Pinto apresentou-se com o objetivo de levar o presidente Marcelo a uma segunda volta. Reza a lenda que está ainda hoje à espera de um telefonema do partido socialista a declarar o apoio oficial. A mesma lenda reza que o partido socialista mudou de número de telemóvel e está neste momento em Belém com Marcelo, onde construíram uma casa e uma família feliz. As más línguas são por isso tentadas a concluir que Ana Gomes ficou mãe solteira. As boas línguas viram no entanto que Ana Gomes não precisou de deixar de ser solteira para defender a relação de cada um de nós com a democracia.

    Bem, parece que estava a olhar para o boletim errado. Agora sim, por fim, Rui Rio... O quê, Rui Rio não participou? Então e o outro, aquele baixinho muito querido e refilão do CDS, o Chiquito... Também não? Da forma como estavam ontem a celebrar e a reclamar a vitória do senhor que passaram os últimos cinco anos a criticar por já não se reverem nas suas ideias e ações, parecia mesmo que tinham ganho os três em conjunto, em ménage. Acabou por ser um ménage ao qual Marcelo Rebelo de Sousa se recusou a ir. Ficaram só os dois de meias a olhar-se de forma constrangida e eu para aquela situação constrangedora, com um sorriso de comoção.

    Estou assim, sorridente e comovido, em condições de encerrar o bitaite. Muita tinta correu, muitas palavras se disseram e no final, objetivamente, nada mudou. Ainda assim, deixo-vos como recomendação o olear de todos os portões que a vossa vista alcançar. Não passou a minha avó uma vida a trabalhar para contruir uma casa, para agora não conseguir dormir à noite.


Um abraço,

Luís Vasco Fernandes

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